sexta-feira, 19 de agosto de 2016

INVASÃO



Sua casa, seu recanto, seu!
Interfone, portaria, campainha, olho mágico, portas fechadas. Proteção e segurança. E dentro você tudo decide, o que fazer ou nada fazer. Acorda, se arruma, come, se movimenta, planeja, direciona o seu dia, dorme no seu horário e tudo acontece na rotina por você estabelecida.  Se um dia tudo sai da rotina a decisão é sua, sua!
Até que de repente, batem a sua porta, comunicam o que vai acontecer e você não tem tempo de recusar, de não concordar.  Não querem saber da sua rotina, dos seus planos, você não decide nada, lhe tiram a autoridade.
 No máximo, com sorte, recebe um olhar: Coitada! (melhor seria os olhos nada dizerem).
Você é invadida por uma reforma no prédio. E você é parte dele. Decidem então entrar, decidiram por você, são várias pessoas que decidem o que fazer, aquelas que têm mais poder que você, que decidem quando fizer, como fazer. E desarrumam a casa e você.
 Não somos nada, donos de nada! Nem da própria vida somos donos. Das coisas muito menos! Não somos dono da nossa intimidade. Até nossos pensamentos adivinham. Sabem o que sentimos. Mas você não tem que pensar em você, tem que pensar na coletividade. No bem estar dos outros.
 Homens até então desconhecidos chegam cedo, conversam e entram e saem a todo instante. Abrem e fecham portas, deixam pegadas na sala, marcando o território, por hora deles. E discretamente, eles são discretos, você é que nesta situação se mostra intranquila. É preciso controle!  Invadem sua rotina, escutam sua conversa, pegam você de roupão de banho, percebem seu rosto ao acordar. Escutam a sua música no rádio, o seu programa na televisão, sentem o cheiro da sua comida no fogão. Observam você no telefone, no computador, conversando com o filho. Só faltam ler o seu livro.
E você então se torna intrusa no seu próprio espaço.
Decidem se haverá água, se você poderá usar o seu banheiro, se poderá fazer a sua comida, se poderá sair, a que horas irá dormir.  Desconsolada você abre a agenda e começa a desmarcar os compromissos. A invasão que deveria ser por cinco dias, já se prolonga por dez dias. Calma!
No final de cada dia lhe entregam a casa devassada. E você mais que depressa fecha as portas e tenta resgatar o que é seu, sentir de posse, nem que seja por algumas horas somente.
Chega o dia que eles dão por terminada a invasão, recolhem os apetrechos, entregam-lhe a casa e dizem carinhosamente: Desculpa aí qualquer coisa, viu? 
E você responde prontamente: Que nada! Eu só tenho a agradecer tudo o que fizeram e como fizeram.
E sorri um sorriso resignado, de volta ao que é seu, por hora...

Joyce Pianchão

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