quarta-feira, 27 de março de 2019

De que lado eu estou?




Entro ou saio de vez?

Estou do meu lado sempre, não me deixo só, mesmo quando só estou.

Estou do lado esquerdo, do lado do coração, que às vezes bate descompassado.
E no compasso, eu me aprumo e sigo procurando de um lado e de outro.

Encontro desse lado o direito do sossego.
Vou então pra outro lado e sou desassossego.

Fico ou não? Estou do lado certo?
Do meu lado eu não saio. Não saio não!

E caminho de um lado e de outro.
Estou sempre procurando, nem sempre sei o quê.

Diante da porta eu me encontro.
Entro ou aguardo?
Bato ou forço a fechadura?

De um lado eu falo, discuto, modifico.
De outro eu me faço silêncio.
De um lado sou fortaleza.
De outro me faço tristeza.

Não sou caminho certo.
Do meu lado caminho sempre, minha única certeza.

Joyce Pianchão



quarta-feira, 20 de março de 2019

Aqui estou!



Aqui estou!

Vejo o dia através da minha cortina que abro lentamente e deixo o sol entrar. Vejo outras janelas, algumas abertas, outras ainda dormem. Levanto os olhos para o céu e grata sou por mais esse dia. Mas não estou só... Acordei com enxaqueca. É a minha dor crônica. Cada um tem a sua. Ela de certa forma é uma companheira que me avisa que algo me atingiu e que preciso de um momento meu, só meu.

Sou sensível à mudança de tempo, a cheiros fortes, ambientes “carregados”, olhares “atravessados”, comentários ofensivos, gente falsa... Sou assim, como muita gente que como eu, ainda sente na pele, que tem olhos que falam e veem mais do que deveriam ver, enfim gente de verdade. Todos nós somos, precisamos só ser lembrados disso.

Mas, aqui estou! Saudando a oportunidade que me amanhece pra vida. Pra tentar de novo.
E eu tento não assimilar o barulho que não é meu, aciono o meu autocontrole, eu me esforço para me adaptar ao inevitável, gostar e aceitar o que a maioria aceita, eu tento!
Procuro ser cordial ao falar, ao gesticular, ao escrever, ao olhar.
O excesso de esforço, de controle, de vontade de ser agradável me faz mal. São muitas as exigências...

Preciso me fazer feliz, me encontrar por aí, bater um papo franco, olho no olho. Dar-me um abraço forte, um tapinha nas costas de consolo, dizer para mim mesma que compreendo o que me aflige. Quero me dar um aperto de mão de trato feito com a vida.
Procuro todos os dias me fazer bem, pois é nessa procura que eu tento ser feliz de verdade.

Pronto, falei! Escancaro a cortina. A enxaqueca se foi. O dia se firma e eu aqui estou!

Joyce Pianchão

quarta-feira, 13 de março de 2019

Não pise no meu sonho







“Não pise nos seus sonhos”. Eu li essa frase, há dois anos no restaurante Olímpia, na cidade de Canela, no Rio Grande do Sul. Anotei-a em um guardanapo de papel e trouxe na minha mala de viagem em retorno a Belo Horizonte.
Ficou nos meus guardados.
Não desfaço dos meus sonhos, mesmo sabendo que muitos serão para sempre sonhos. Pois são eles o que há de mais real em mim.

Pisei na grama, passei por cima de muita coisa ruim.
Pisei no cimento molhado e deixei marcas dos meus passos mal dados por aí.
Pisei na pedra e me machuquei, mas apesar de tudo, guardei alguns sonhos comigo.
...
Paro de escrever e fico sabendo da tragédia de hoje, em uma escola em São Paulo.
Por um instante recolhi meus sonhos. Senti uma enorme dor, como se alguém pisasse no meu peito.


Quero ver gente cuidando melhor de gente, se respeitando mais.
Não pise nesse meu sonho.


 Joyce Pianchão

terça-feira, 5 de março de 2019

O tempo da maturidade





Não estou triste, não perdi ninguém, não deixei de sorri. Mas, sou gente e gente faz barulho ou deixa de fazer quando necessário. Sobre isto então, eu escrevo.

Diante de algo que me entristece, aquilo que me confunde ou que não me representa, quando me vejo sem resposta, quando me vejo indecisa se vou ou recuo, aí é quando ele se faz urgente em mim, o silêncio é o meu refúgio.

Dou então, nestes momentos, o meu cessar de som, estou em repouso.
Não é uma fuga, nem mesmo com isto quero penalizar ninguém, nem a mim mesma. Retiro-me com a segurança que a maturidade me trouxe, para um instante de reflexão.
Eu me removo como se retirasse uma pedra do caminho. Afinal, o barulho continua o seu caminhar.

E então eu sou pedra, sou silêncio.
Eu me faço pedra a outros olhos, mas continuo eu mesma, eu observo ,penso, sinto e aguardo minhas respostas.
Quando assim eu me encontro faço releitura minuciosa do meu eu e de todos os outros que me rodeiam.

Até que me fortaleço, eu me acalmo e percebo que não sou pedra no caminho, sou o caminho das minhas escolhas.

Joyce Pianchão