
Tarde de intenso calor em Belo Horizonte. Lá fora não dá
para ir, pois são quinze horas, a hora que o sol castiga, sem dó. Então,
assentada na minha habitual poltrona amarela, acomodada nas minhas confortáveis almofadas, eu me coloco a ler o final do livro de Manuel Bandeira “Crônicas da
província do Brasil” e chego ao término, já com saudade das tão bem escritas
crônicas por ele.
Destaco, entre tantas, “Presente”. Que não poderia ser diferente
sendo professora que sou. Bandeira escreve sobre o falecimento do seu professor Silva
Ramos, quando ele ainda frequentava o primeiro ano do Colégio Pedro II, naquele
tempo, como disse o autor, chamado Ginásio Nacional. E assim termina Manuel Bandeira as suas
recordações de estudante e a influência que o professor Silva Ramos lhe deixou
“o gosto, a verdadeira compreensão dos padrões mais nobres da nossa linguagem;
no português que falo e escrevo hoje (...)”.
Mas comovente mesmo, é o final que ele dá ao texto:
“Nesta hora de enternecida recordação, se os seus olhos
espirituais estão procurando no mundo material os daqueles que o amaram e
admiraram, entre os seus antigos discípulos do Ginásio me orgulho de
comparecer, respondendo como à lista de chamada: Presente!”
Outra crônica que também me chamou a atenção, pelo mesmo
motivo, da crônica “Presente”, é “Leitura de mocinhas”, no qual ele conta que
propôs a um professor da Escola Normal, que desse à sua turma como tema de uma redação
“impressões de leitura”, assinalando os livros prediletos.Assim foi feito e ele cita alguns
depoimentos das alunas normalistas. Encerrando o relato ele escreve:
“Agora, para acabar com chave de ouro, transcrevo esta
adorável confissão de infância":
"Dentre os livros de estudo que tenha lido, o que mais me
agradou até hoje foi a História do Brasil. Porque nela é que aprendemos os
fatos relatados no mundo e por meio desta conhecemos de nome os principais
homens heroicos daquele tempo. Assim como Joaquim José da Silva Xavier, por
alcunha Tiradentes, foi um dos maiores vultos da Inconfidência Mineira. (...)”.
O que chama atenção nesta redação, é que diferentemente das outras alunas, que descreveram os livros literários lidos,esta opta por apreciar o seu livro didático.
Outras mais crônicas me fizeram gostar de ler Manuel Bandeira. Tanto que agora inicio a
leitura do livro do mesmo autor “Crônicas inéditas 2”.
Joyce Pianchão
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