A
intrusa
Céu azul, muito azul, azul limpo, convidativo.
Azul presente de segunda-feira.
Azul acompanhado de sol.
Sol manso, acordando aos poucos, espreguiçando
feito gente.
Até a lua se esqueceu de se recolher, e no céu
ficou a me espiar.
Eu vi cachorros, muitos cachorros, acompanhando
um homem igualmente solitário no caminho, no mesmo caminho, no meu caminho. Ou serei
eu quem estava no caminho dele?
Cachorros e homem se completando. Eu sem
cachorro, acompanhada por gente que teimava na minha mente permanecer.
Será que eles também, cachorros e homem, viram
o azul do céu, o sol manso e a lua ainda acordada?
Eu caminhava e via a lua ali me acompanhando.
Ora se escondia atrás de uma árvore, ora atrás da passarela de pedestres. Onde
está você? Atrás da igreja que avisto ao longe? Passa o trem ao lado, ao lado
do meu caminho, me perco no seu passar lento. Cadê a lua? Foi com o trem? Eu
criança brincando de esconde-esconde... Ah, ali está ela, continua a me
acompanhar.
Eu dividindo espaço com gente, bicho, alegria e
pensamentos.
Ás vezes eu me interrompo com um olhar
diferente, observador.
Um cumprimento, um sorriso, um “eu já te vi não
sei onde”.
Um elogio que me faz endireitar a postura,
olhar pra frente e seguir o caminho com confiança de quem pode, ou acha que
pode, espera poder...
Conversa sem compromisso com o moço que vende
água. Parada obrigatória.
O caminho continua à frente, passos e passos e
pensamentos.
O fim do caminho, não é o fim da vida, nem o
fim do trilhar, pausa até amanhã. Eu acho que assim será. Será?
Feliz regresso para casa, corpo leve, a bagagem
de pensamentos ficou esquecida pelo caminho de céu azul, de sol despertando, de
lua intrusa. Intrusa?
Intrusa eu, que entrei neste cenário e quis,
sem ser convidada, fazer parte desta harmonia do amanhecer.
Que o que deixei lá não seja empecilho para que
o dia se complete harmonioso. E que eu seja também pura harmonia hoje.
Mais um dia de caminhada!
Joyce Pianchão
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