Sua casa, seu recanto, seu!
Interfone, portaria, campainha, olho mágico,
portas fechadas. Proteção e segurança. E dentro você tudo decide, o que fazer
ou nada fazer. Acorda, se arruma, come, se movimenta, planeja, direciona o seu
dia, dorme no seu horário e tudo acontece na rotina por você estabelecida. Se um dia tudo sai da rotina a decisão é sua,
sua!
Até que de repente, batem a sua porta, comunicam
o que vai acontecer e você não tem tempo de recusar, de não concordar. Não querem saber da sua rotina, dos seus
planos, você não decide nada, lhe tiram a autoridade.
No
máximo, com sorte, recebe um olhar: Coitada! (melhor seria os olhos nada
dizerem).
Você é invadida por uma reforma no prédio. E
você é parte dele. Decidem então entrar, decidiram por você, são várias pessoas
que decidem o que fazer, aquelas que têm mais poder que você, que decidem quando
fizer, como fazer. E desarrumam a casa e você.
Não
somos nada, donos de nada! Nem da própria vida somos donos. Das coisas muito
menos! Não somos dono da nossa intimidade. Até nossos pensamentos adivinham.
Sabem o que sentimos. Mas você não tem que pensar em você, tem que pensar na
coletividade. No bem estar dos outros.
Homens
até então desconhecidos chegam cedo, conversam e entram e saem a todo instante.
Abrem e fecham portas, deixam pegadas na sala, marcando o território, por hora
deles. E discretamente, eles são discretos, você é que nesta situação se mostra
intranquila. É preciso controle! Invadem
sua rotina, escutam sua conversa, pegam você de roupão de banho, percebem seu
rosto ao acordar. Escutam a sua música no rádio, o seu programa na televisão,
sentem o cheiro da sua comida no fogão. Observam você no telefone, no
computador, conversando com o filho. Só faltam ler o seu livro.
E você então se torna intrusa no seu próprio
espaço.
Decidem se haverá água, se você poderá usar o
seu banheiro, se poderá fazer a sua comida, se poderá sair, a que horas irá
dormir. Desconsolada você abre a agenda
e começa a desmarcar os compromissos. A invasão que deveria ser por cinco dias,
já se prolonga por dez dias. Calma!
No final de cada dia lhe entregam a casa
devassada. E você mais que depressa fecha as portas e tenta resgatar o que é
seu, sentir de posse, nem que seja por algumas horas somente.
Chega o dia que eles dão por terminada a
invasão, recolhem os apetrechos, entregam-lhe a casa e dizem carinhosamente: Desculpa aí qualquer coisa, viu?
E você responde prontamente: Que nada! Eu só tenho a agradecer tudo o que fizeram e como fizeram.
E sorri um sorriso resignado, de volta ao que é
seu, por hora...
Joyce Pianchão