E O
ANO COMEÇOU...
E eu li mais um livro de Clarice.
Estou vivendo o mês de janeiro, vivendo o
verão, o calor intenso, as pancadas de chuva, as notícias do meu país, do meu
estado, da minha cidade.
Não é bem assim...
Tenho me
esquivado das notícias da televisão, do rádio, das redes sociais.
Desânimo?
Não é bem assim...
Para que
eu sobreviva é preciso tirar férias do real.
O que é
o real?
A dureza do mundo que me quer fazer acreditar
que não tem mais leveza. Falta-me o ar, a direção.
Então eu me silencio.
Eu me
silencio até criar um atalho de vida.
E escuto
Mozart, leio Clarice Lispector, faço pipoca, tomo suco de uva integral, faço
exercícios para o corpo, para os olhos, para a mente. Inspiro e expiro
lentamente.
Faço caminhadas matinais, dou bom dia à vida.
Olho sem pressa o céu, as árvores, as casas, o
longe.
Não quero
encarar as pessoas, não quero ver o perto. Agora não...
Como frutas, legumes e verduras. Tomo água. No jantar
a salada é o prato principal.
Vejo novela na televisão, assisto filme no Cine
Belas Artes, compro ingresso para o teatro.
Onde me sinto bem?
Na livraria, conversando com os livros,
escutando os CDs.
No café, o ouvido amigo, a conversa sem pressa.
No shopping, a frivolidade me ampara, deixando
a vida passar, preguiçosamente passar.
No meu lar, na cozinha onde preparo meu
alimento escutando música; no meu quarto onde exercito o corpo e a mente, onde
leio e escrevo, onde eu sou eu.
No meu canto, onde sempre há uma recordação à
espreita.
E assim eu começo o ano, me salvando no
novo janeiro.
Joyce Pianchão